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Espaço para inovações [Alta Roda]

Nesse ano dificílimo para a economia brasileira e em particular para o setor automobilístico, é estimulante saber que seminários e congressos conseguem atingir objetivos, agregar conhecimento, antecipar tendências e projetar o futuro. O Congresso SAE Brasil completou 25 anos com o evento da semana passada em São Paulo. Em 1991 se implantou aqui o primeiro braço fora dos EUA da secular (fundada em 1905, em Nova York) Sociedade de Engenheiros Automobilísticos.

Hoje voltada para a engenharia da mobilidade, nos modais terrestre e aéreo, a entidade conseguiu ao longo de três dias reunir mais de 7.000 participantes, 85 palestrantes e apresentar 94 relatórios técnicos. A tradicional exposição encolheu um pouco, mas o inovador espaço tecnológico deu oportunidades para apresentações abertas e a baixo custo.
Um tema quase onipresente foi a mobilidade inteligente e, claro, o caminho para direção semiautônoma, em um primeiro momento, e autônoma, em um futuro difícil de prever com exatidão. Entre a tecnologia estar testada, pronta e efetivamente aplicada na prática podem aparecer alguns óbices. Até implantação mais lenta que o esperado, pois toda a sociedade precisa entender os reflexos.
O brasileiro parece estar confortável, segundo pesquisa da Cisco apresentada pela Porto Conectas, sobre o novo papel do automóvel. A população urbana aceita a direção autônoma, além da possibilidade de trocar a propriedade do carro pelo uso apenas quando necessário. Como toda pesquisa, depende de como a pergunta é feita, o público-alvo atingido e se a pessoa está disposta a pagar por custos desconhecidos que serão muito altos, pelo menos de início. Fora dos grandes centros urbanos e entre aqueles que nunca tiveram um automóvel as respostas talvez fossem outras.
Com infraestrutura precária, tanto viária como em abrangência limitada do tráfego de dados em alta velocidade, tudo deve acontecer de forma bem mais lenta no Brasil. Ainda há espaço, porém, para inovações como o banco de motorista de ônibus que detecta a fadiga do profissional. Desenvolvido pela Marcopolo, a encarroçadora gaúcha apresentará a novidade a seus clientes no início de 2017 e inclui diferentes métodos físicos de alerta.
Versões modernizadas de embreagem automática eletrônica (com ou sem pedal) foram reapresentadas pela Bosch e Schaeffler. Dispositivo mais barato do que o câmbio automatizado de uma embreagem merecia ter uma segunda chance no mercado brasileiro. Agora é possível ganhar até 5% em economia de combustível com o recurso de roda-livre (abertura da embreagem para aproveitar o movimento próprio do carro) e mais 5% se acoplada ao sistema start-stop (desliga-religa o motor no para-e-anda do trânsito).
O congresso divulgou uma iniciativa meritória apoiada por Campinas (SP). Trata-se de um projeto-piloto chamado Investigação Avançada de Acidentes de Trânsito, existente em 12 países. Apenas em um bairro da cidade a comissão técnica pesquisou 72 casos e promoveu 23 reconstituições, inclusive de fatalidades. Numa segunda fase este pool de empresas, universidade e instituições públicas preocupadas com a segurança quer incluir acidentes rodoviários.
RODA VIVA
DECISÃO reafirmada pela FCA: não haverá versão Fiat de nenhum produto Jeep, embora tenha acontecido com a dupla Dodge Journey/Fiat Freemont. Descartado também o possível SUV Fiat derivado da picape Toro, como ocorre com Chevrolet Trailblazer ou Toyota SW4. Informalmente a empresa alega que o custo de um SUV médio é alto e já existe o Jeep Compass.
SEXTA geração do Chevrolet Camaro deu belo salto em desempenho, estilo e interior todo reformulado. Começam vendas da edição especial Fifty que comemora 50 anos do modelo por R$ 297.000. Apenas 100 unidades virão para o Brasil, mas a partir de janeiro cupê e conversível estarão disponíveis. Motor V-8 de 461 cv/62,9 kgfm; 0 a 100 km/h, 4,2 s; máxima, 290 km/h.
NISSAN KICKS no dia a dia se destaca pela boa suspensão, direção precisa e um quadro de instrumentos moderno e de fácil visualização. Na versão de topo, quatro câmeras permitem manobrar com facilidade e segurança. Apesar de sua massa ser relativamente baixa (1.142 kg), falta algum fôlego ao carro pela combinação de motor de apenas 1,6 L e câmbio CVT.
MOTORES de 6 cilindros em linha são equilibrados por natureza, porém apenas a BMW continua fiel a eles. Com o avanço recente da modularidade de cilindros e desenho mais compacto (pode até ser colocado transversalmente) outros fabricantes estão readotando essa configuração. Mercedes-Benz já aderiu e a próxima será a Jaguar. Devem vir outros por aí.

FABRICANTE americano de carros elétricos Tesla anunciou seu primeiro lucro líquido trimestral (simbólicos US$ 21,9 milhões) depois de 13 trimestres seguidos de prejuízo. Isso está longe de equilibrar as contas da empresa do bilionário Elon Musk. Lucro anunciado, aliás, se deve à compra de créditos fiscais para veículos de emissão zero do estado da Califórnia.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

Pés no chão [Alta Roda]

 
Que o futuro dos automóveis deve ser elétrico, poucos duvidam. O problema é saber quando e como isso deve acontecer. Há dois meses um dos países mais engajados nos incentivos para a substituição dos motores a combustão, a Noruega, desmentiu haver algum prazo ou obrigatoriedade. No país nórdico carros elétricos são isentos de impostos de compra, de circulação e de pedágio urbano. Podem transitar nos corredores de ônibus, e recebem recarga e estacionamento gratuitos.

Semana passada uma proposta no parlamento alemão de impedir a venda de automóveis a gasolina ou diesel no país a partir de 2030, foi interpretada aqui como favas contadas. Não é bem assim. A aprovação depende ainda de muitos fatores, inclusive de um acordo geral com a União Europeia. Afinal, o mercado automobilístico alemão responde por um quarto de todo o continente, ao contrário do norueguês, que mal passa de umas gotas em um copo.
O avanço da tração elétrica tem mais impedimentos do que simplesmente baixa autonomia, tempo de recarga ou de como se obtém a essa energia, entre outros. Apenas um dos fatores limitantes, o custo da bateria, parece caminhar melhor. Segundo a consultoria Bloomberg, seu preço em US$/kWh caiu 65% entre 2010 e 2015, devendo ir bem abaixo disso na próxima década. A reciclagem em massa das baterias, porém, não apresenta ainda uma equação financeira plausível.
Até mesmo o modelo de negócio do carro elétrico carece de contabilidade precisa. A Faraday, que apresentou seus planos no começo do ano e conseguiu incentivos do estado americano de Nevada, está com obras e contas atrasadas. A Tesla, do bilionário e visionário Elon Musk, acumula prejuízo há 18 trimestres consecutivos. Mas isso não impedirá que seu Model S esteja no Salão do Automóvel de São Paulo, entre 10 e 20 de novembro próximo, e possa até ser testado na pista fechada do Expo Center.
Voltando à Alemanha, o país tem uma meta menos ambiciosa de colocar nas ruas um milhão de carros elétricos até 2020 à custa de um pesado subsídio de 5.000 euros (cerca de R$ 20.000) por veículo. Essas contas tendem a não fechar, pois no ano passado foram vendidos no país apenas 30.000 unidades ou 1% do total comercializado. Reconhecido pelo rigor fiscal nas contas públicas, precisam combinar antes com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble…
EUA e França também construíram programas de incentivos ou de abatimento de impostos a pagar para incentivar o uso de energia alternativa por parte dos consumidores. Como o elétrico ainda é um produto muito mais caro do que um carro convencional, grandes avanços técnicos ocorrem hoje nos motores a combustão e há poucos indicadores de o preço dos combustíveis fósseis voltar a patamares muito elevados, fica difícil um comprador tomar sua decisão em meio a tantas indefinições.
O fato real é que ninguém sabe quanto tempo vai durar a transição. Grandes capitais europeias podem, de fato, criar zonas centrais de exclusão para veículos com motores apenas a combustão. Mais prudente seria incentivar os híbridos, que apresentam custos mais palatáveis e significam opção com os pés no chão.
RODA VIVA

FABRICANTES, como Honda, têm suas próprias metas para 2030. A previsão é objetiva: 50% de sua produção se concentraria em carros elétricos a bateria e híbridos (não informou em que proporção), 15% de elétricos com pilha a hidrogênio e 35% com motores a combustão exclusivamente. Estes motores estarão ainda nos híbridos e, portanto, vão longe…

OUTRA previsão, dessa vez da Honeywell/Garrett, indica que em cinco anos veículos leves com motores turbo passarão de 20% para 30% na América do Sul. É mais desempenho com menor consumo de combustível. Já existem vários modelos de alto volume, produzidos aqui e na Argentina, exclusivamente turbos: VW Jetta e Golf, Chevrolet Cruze, Citroën C4, Peugeot 308 e 408.

NOVO Mercedes-Benz Classe E está mais requintado e aerodinâmico com Cx de apenas 0,23. Versão E250 (2 L/211 cv) ficou 65 kg mais leve e assim diminuiu consumo de combustível. Dos recursos de direção semiautônoma destacam-se controle ativo de cruzeiro até 210 km/h e assistente de manutenção dentro das faixas entre 60 e 200 km/h. Preços: R$ 309.900 a 325.900.

VOLVO XC90 oferece no Brasil, pela primeira vez entre os SUVs, o mais avançado dos seus sistemas semiautônomos: permite acelerar, frear e a movimentar o volante a até 130 km/h, mesmo sem seguir um carro à frente. Mas o motorista deve manter sempre as mãos no volante. Também aciona os freios se tentar virar à frente de outro carro em sentido contrário.
DENATRAN continua com sua incoerência. Não é mais preciso que o agente de trânsito use um decibelímetro para constatar excesso no nível sonoro musical de um carro. Mas milhões de veículos continuam a rodar com películas escurecedoras nos vidros dianteiros, ilegais e perigosas, principalmente à noite e em locais escuros. Em Brasília, então, nenhuma “autoridade” segue a lei.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).


Em busca do tempo perdido [Alta Roda]

Talvez a melhor imagem para explicar as interações entre as crises políticas e econômicas que assolam os países seja a de uma dupla nos ralis. O piloto pode fazer o papel dos políticos e governantes, enquanto o navegador representa a economia. Quanto o navegador diz “freada forte e curva acentuada à direita”, por exemplo, ai do piloto que não confiar. O carro vai se acidentar e termina tudo ali.

Durante o congresso Perspectivas 2017, realizado recentemente em São Paulo pela Autodata, mais de um palestrante bateu nessa tecla. Não se resolvem problemas de recessão, desemprego, baixo índice de confiança e financiamentos difíceis sem obediência ao “navegador”. O conhecido código tulipa das planilhas de ralis significa as leis de mercado. Não dá para sair dessa trilha e achar que ganhará a prova.
Faltou consenso sobre a velocidade de retorno do carro à competição, depois de consertado. A começar por Letícia Costa, da consultoria Prada, que previu algo entre crescimento zero e até 5%. Ela mesma se classificou como cautelosamente otimista. Rogélio Golfarb, da Ford, lembrou que pela primeira vez o mercado de veículos cai por quatro anos seguidos (2013-2016), totalizando 46%. A crise de 1980-1981, com menos 43%, custou um período de 12 anos para recuperação.
Momento atual é dramático, pois pegou todos os fabricantes, novos e antigos, no fim de um ciclo de altos investimentos em capacidade produtiva. A ociosidade de 50% (considerando três turnos de produção) cairá lentamente nos próximos anos. A fase de lucros se transformou em prejuízos. Há alguns ventos a favor: melhora da confiança, recuo da inflação e da taxa de juros básica e crescimento do PIB em 2017.
Barry Engle, da GM, não se intimidou. Acha possível crescer entre 12 e 14% no próximo ano, acima da melhor previsão até agora, a da Anfavea, que acenou com uma subida em torno de 8%. Entre os motivos do otimismo citou o rápido envelhecimento da frota brasileira. Pode não valer mais a pena deixar de trocar o carro, em especial se sinais políticos positivos se confirmarem.
Para David Powels, da Volkswagen, só marcas muito pequenas desistiram do Brasil. Entre 2017 e 2019 terá quatro modelos do segmento compacto com a arquitetura mais moderna do Grupo VW, que encerrou o primeiro semestre deste ano como líder mundial em vendas. Esses carros ainda não existem nem na Alemanha. Os produtos esperados são Gol, Voyage, Parati e um novo crossover que possivelmente se chame Fox.
Talvez a empresa a sentir menos a crise brasileira destes anos, Miguel Fonseca afirmou que a Toyota olha uma década à frente. Foi além: em 2030 acredita que 40% dos carros da marca, aqui vendidos, serão híbridos com motores flex.

Stefan Ketter, da FCA, discorreu sobre as dificuldades de prever o ritmo de recuperação no próximo ano. Acredita, porém, que em 2020 podemos voltar aos três milhões de veículos comercializados, ainda distantes dos 3,8 milhões de 2012.
Em resumo, o País enfrenta sérios problemas de produtividade e ineficiência decorrentes de infraestrutura, burocracia e cipoal tributário. Precisa voltar a ser competitivo na exportação e mais aberto ao mundo. Quem sabe, um dia ganharemos esse rali.
RODA VIVA

APENAS aqui repercutiu de forma tão forte uma pequena nota da revista alemã Der Spiegel, dando conta de que a Alemanha proibiria fabricar carros com motores a combustão depois de 2030. Pura bobagem. Não passa de uma proposta que nem foi aprovada no Parlamento e também depende de acordo com a União Europeia. Chance de acontecer nesse prazo: zero.
ENQUANTO movimentações e apelos contra os combustíveis de origem fóssil ocorrem, em especial na Alemanha, continuam as indefinições sobre o etanol (praticamente neutro em termos de pegada de carbono) no Brasil. Stefan Ketter, presidente da FCA, voltou a chamar a atenção para essa oportunidade desperdiçada durante o Congresso Perspectivas 2017.


IMPENSÁVEL há uma década, câmbio automático chegou às picapes compactas com a Duster Oroch. Combinado apenas ao motor 2-litros, a picape anabolizada da Renault, primeira de quatro portas entre as pequenas, vai bem no para-e-anda do trânsito. Mesmo tendo apenas quatro marchas, nesse tipo de veículo apresenta comportamento razoável.

FARÓIS principais em LED prometem novos avanços. Hoje estão limitados porque os emissores de luz são individuais, precisam estar agrupados e ocupam espaço só disponível em carros grandes. Agora começam a aparecer os primeiros chips com 1.024 pontos controláveis de luz. Resultado: resolução ainda maior, sem risco de ofuscamento e dimensões bem menores.

PICAPES de cabine dupla com aros e pneus bem caros têm sido alvos de quadrilhas. Levantam o veículo pela lateral com ajuda de um macaco, retiram duas rodas e vão embora deixando o macaco para trás. Atacam à luz do dia e total destemor. Pior do que o furto é saber que há receptadores fáceis de encontrar, os grandes “espertos” nesse tipo de crime.

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).


Entre o futuro e a realidade [Alta Roda]


Fotos | http://www.mondial-automobile.com/
O Salão do Automóvel de Paris, o mais longo entre as exposições internacionais e que se encerra no próximo dia 16, evidenciou a aposta da maioria dos fabricantes em modelos híbridos, híbridos plugáveis e elétricos. Embora a indústria veja esse cenário como oportuno, ainda não se tem certeza de como os consumidores dos mercados maduros do Hemisfério Norte vão “abraçar a causa”. Nos elétricos, a autonomia tem aumentado, mas não há a segurança de recarga rápida e capilar. E por ainda demandar subsídios governamentais para trazer os preços a uma realidade aceitável, mesmo para compradores de alto poder aquisitivo, sobram dúvidas.

O mercado europeu continua a caminhar, até certo ponto, de forma contrária ancorado no baixo preço atual da gasolina e diesel. A crescente aceitação de SUVs e crossovers ficou marcada mais uma vez em Paris, apesar de significar aumento de consumo de combustível e, como consequência direta, de CO2. Um dos modelos conceituais que chamaram atenção foi o BMW X2, um crossover compacto que segue a moda. Seu estilo, sem dúvida, é o mais atraente da gama X do fabricante alemão, que não revelou sua mecânica, mas deverá ser a do X1 de tração dianteira. No outro extremo está o novo Land Rover Discovery de sete lugares que, apesar das dimensões avantajadas, perdeu quase 500 kg de massa por usar estrutura em alumínio.
Dois compactos, no entanto, roubaram a cena. O novo Nissan March (Micra, na Europa) rompeu com o estilo convencional e ficou ainda mais ousado que o Kicks. A marca japonesa afirmou que o modelo ainda está distante de produção no Brasil, vai depender da recuperação do mercado aqui. Mesmo discurso adotou a Citroën em relação ao novo C3 cuja renovação estilística é marcante. Mas tudo pode não passar de dissimulação, o tradicional “esconder o jogo”. Sem dúvida, o cronograma de lançamento para estes dois modelos pode se dilatar, mas quem ficar parado no tempo corre o risco de se dar mal no futuro.
Sandero e Logan (Dacia na Europa) passaram a ter estilo um pouco mais refinado e, tudo indica, os Renault homônimos produzidos no Brasil e em 2017 também na Argentina não acompanharão. O CH-R, que de tão arrojado parecia ser um exercício de estilo, estreou no salão praticamente igual à forma original concebida e pode inspirar as linhas do futuro crossover que a Toyota produzirá no Brasil.
Novo Audi Q5 a ser feito no México dentro de alguns meses e, portanto, com preço competitivo aqui, impressionou bem pelo desenho marcante que dá início à estratégia de diferenciar mais a linha de automóveis dos crossovers e SUVs. A Volkswagen procurou demonstrar uma guinada tecnológica em direção à eletrificação e aos carros autônomos para virar a página em relação aos motores a diesel.
Sem lançamentos de impacto este ano em Paris entre os carros esporte, os Mercedes-AMG GT Roadster e C Roadster acabaram por roubar a cena. Tornaram-se a demonstração viva de que, embora o clima não ajude, sempre há espaço para conversíveis, mesmo que representem parcela quase simbólica das vendas totais. Mas dessa liberdade os europeus não abrem mão.

RODA VIVA

SETEMBRO foi um mês ruim para o mercado interno por ter menos dias úteis e greve bancária. Volkswagen estava sem estoques depois de 30 dias com as suas três fábricas paradas em razão de conflito com um fornecedor de bancos. Queda atingiu 20% sobre o mesmo mês do ano passado e de 23% no acumulado de 2016. Anfavea manteve previsão anual em menos 19% sobre 2015.
ESTOQUES totais de 40 dias de setembro (mesmo sem nada nos pátios da VW e da sua rede) continuam altos. Sinalização para o último trimestre indica leve recuperação, na realidade números um pouco menos negativos. Fenabrave (associação das concessionárias) prevê que vendas de automóveis, comerciais leves e pesados encolherão cerca de 20% nos 12 meses deste ano.
FIAT MOBI tem vantagem na hora de entrar numa vaga mais apertada por suas dimensões menores e a versão Way com altura de rodagem elevada mostra eficiência em pisos irregulares. Visibilidade traseira é um ponto fraco em especial no uso urbano. Em termos de desempenho quase nada muda em relação ao Uno quando tinha os antigos motores de quatro cilindros.
GRAÇAS à legislação, que considera picapes de cabine estendida ou dupla como veículos comerciais, a Fiat Toro receberá o novo motor de quatro cilindros flex com cilindrada maior de 2,4 litros e 175 cv. O mesmo motor, colocado no Jeep Compass (considerado automóvel), precisou se limitar a dois litros para enquadramento competitivo no IPI.
PASSARAM-SE cinco anos e o Denatran não implantou o sistema que aponta se o veículo sujeito a recall (revocação) por problema de segurança deixou de atender. A notificação sairia no certificado de licenciamento anual e poderia melhorar o índice de comparecimento às concessionárias, hoje inferior a 50%. E, pior, sem solução à vista para essa estranha omissão.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).



Compass no rumo certo [Alta Roda]

A Jeep, marca do Grupo FCA, tem uma missão definida para o Compass, seu novo SUV médio-compacto: vender de 2.000 a 2.400 unidades por mês quando a produção estiver estabilizada. Naturalmente conta com alguma recuperação do mercado brasileiro em 2017. A grade de preços ficou competitiva, entre R$ 100.000 e 150.000, dividida em três níveis de acabamento e motores flex (um novo 2-litros ainda sem dados técnicos liberados) e diesel (170 cv, 4×4 e câmbio automático de nove marchas).
Terá três concorrentes diretos de produção local: Hyundai ix35, Mitsubishi ASX e o Renault Captur (este será lançado logo depois, em dezembro). Há também produtos com menos chance de competir em razão de cotas e imposto de importação como Honda CR-V, Toyota RAV4 e VW Tiguan. O Renault Koleos também pode entrar na briga numa faixa pouco acima.
Seu estilo coloca-se entre o ousado demais Cherokee e o algo mais tradicional Renegade. Embora lembre o Grand Cherokee, tem recurso interessante do leve caimento da linha do teto, a exemplo do muito copiado Land Rover Evoque. Há guias de LEDs, mas não se trata de luzes de uso diurno (DRL). Seu interior ficou espaçoso com 2,64 m de entre-eixos e volume de porta-malas conveniente (410 litros, que caem para 388 com estepe mais volumoso da versão de topo Trailhawk).
Um dos destaques do Compass (bússola, em português) é a oferta de itens eletrônicos em geral não encontrados nessa faixa de preço: controle de adaptativo de velocidade, monitoramento de mudança de faixa, farol alto automático e prevenção de colisão frontal com frenagem automática, entre outros. Pode vir com até sete airbags. Ajuste elétrico dos dois bancos dianteiros também é incomum. Por isso se estranha falta da aplicação automática do freio de estacionamento elétrico e a central multimídia sem tela capacitiva, nem possibilidade de pareamento com Android Auto/Waze.
Uma mudança bem perceptível foi no isolamento de vibrações e ruído do motor diesel, único disponível durante os primeiros contatos. O volante, em rotação de marcha-lenta, trepida menos do que o observado no Renegade e na picape Toro, todos com o mesmo conjunto motriz. A calibração da direção eletroassistida poderia ser mais firme em velocidade típica de estrada. Como o Compass tem massa superior em 88 kg ao Renegade, afetou um pouco acelerações e retomadas, o que não é o ideal considerando seu preço superior.
A diferença, porém, deve ser para melhor com o motor flex, que responderá por 70% das vendas, segundo estimativas da Jeep. Será uma unidade motriz mais moderna, de maior torque e potência, adequada ao porte do modelo. O Compass demonstra solidez marcante e capacidade fora de estrada superior, embora esta não seja uma característica que possa definir a razão de compra da maior parte dos interessados em SUVs e crossovers.
Para essa robustez existe contrapartida em termos de peso total, desempenho e até de visibilidade dianteira em razão de colunas mais espessas que o usual. Também é preciso ver que versões mais caras do Renegade terão superposição de preço com o Compass. Então, não haveria relação de ganha-ganha tão explícita em termos de participação de mercado.
RODA VIVA
PRIMEIRO motor de três cilindros e 1,5 litro fabricado no Brasil estreia no EcoSport reestilizado, no primeiro trimestre de 2017. Fonte desta Coluna indica potência de 130 cv, suficiente também para o Focus hatch. Conhecido como Dragon, terá versão turbo (não de início), sucessor natural do EcoBoost. O SUV compacto receberá câmbio automático convencional, no lugar do automatizado atual.
ABERTURA remota das portas por meio de aplicativo e conexão Bluetooth em smartphones ganhará maior confiabilidade. Francesa Valeo e holandesa Gemalto anunciaram parceria para o sistema virtual de chaves de carro alcançar um alto nível de segurança de comunicação e armazenamento em nuvem. Espera-se, assim, diminuição de furto de veículos.
NISSAN Sentra mostra atributos de boa dirigibilidade, em particular pela suspensão e direção eletroassistida bem calibradas, além de linhas revitalizadas. Volante, de novo desenho, manteve o incômodo sistema de regulagem de altura tipo “queda-livre”. Combinação de motor 2-litros (140 cv, apenas) e câmbio CVT tem respostas ao acelerador um pouco lentas.
TOYOTA lança no Japão, no final do ano, um pequeno boneco (10 cm de altura quando colocado de pé) para ser espécie de assistente pessoal eletrônico capaz de integrar informações do carro e de casa. Batizado de Kirobo Mini, tem chance de encantar público japonês – de adolescentes a adultos – tão ligado em robôs. Se bem aceito, pode ser exportado.
SEMPRE que se fala em catalisador confunde-se garantia de cinco anos ou 80.000 km contra defeitos de fabricação e perda de eficiência com a durabilidade efetiva da peça. Falhas de manutenção, combustível ruim ou danos externos podem até abreviar aqueles prazos. Mas um motorista atento fará o catalisador ter vida útil igual à do motor.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

Tempos de reação? [Alta Roda]

Em plena crise de vendas pode parecer que a grande onda de lançamentos em 2016 se deve à atuação imediata dos fabricantes em busca de clientes arredios. Na realidade, as novidades foram decididas há quatro ou cinco anos, nos tempos de bonança, e em razão de metas de eficiência energética. Só neste mês de setembro, chegaram Uno e seus novos motores, reformulações de meia geração no Fusion, motor 1-litro turboflex para o Golf, além do Jeep Compass produzido no Brasil (a ser analisado na Coluna da próxima semana).
A Ford sempre posicionou bem o seu médio-grande Fusion por trazê-lo do México isento dos 35% de imposto de importação, que deixa os rivais diretos sem fôlego para competir. Não é à toa que até o final do ano se aproximará das 100.000 unidades vendidas desde 2005. Hoje o ritmo caiu para 5.000 unidades/ano, mas o carro recebeu uma série de aperfeiçoamentos.
O visual do modelo 2017 inclui mudanças em faróis, grades e lanternas, além de discreto aerofólio sobre a tampa do porta-malas. A potência do motor turbo a gasolina 2-L passou de 240 cv para 248 cv e ganhou 7% de economia de combustível, mesmo porcentual do motor flex aspirado de 2,5 L que manteve os 175 cv. Alavanca do câmbio automático deu lugar a um prático botão giratório.
Na versão de topo Titanium de tração 4×4 estão concentradas tecnologias como o controle de cruzeiro adaptativo incluindo a função para-e-anda e o detector de pedestre com frenagem autônoma. Segurança passiva inclui oito bolsas de ar (duas para joelhos, do motorista e passageiro) e cintos de segurança infláveis para dois passageiros do banco traseiro. Ajustes elétricos estão nos dois bancos dianteiros.
Dinamicamente é um carro bom de dirigir e tem suspensões voltadas mais ao conforto. Altura de rodagem foi aumentada em 1,2 cm, o que diminuiu (não eliminou) problema anterior de raspar em quebra-molas e rampas, em especial quando roda carregado.
Preços acompanharam a variação do dólar e os novos equipamentos. Vão de R$ 121.500 a R$ 154.500. A Ford manteve a transparência ao adicionar um ano de garantia a cada revisão, no quarto e no quinto anos, por opção do comprador.
Decisão audaciosa foi da VW ao oferecer o primeiro médio-compacto, Golf TSI, com motor de 1-litro e 3 cilindros. Porém, não é qualquer motor. Trata-se do melhor turboflex do mercado na relação desempenho-consumo. São 125 cv a etanol (116 cv a gasolina ou 1 cv a mais que o oferecido na Europa) e torque de 20,4 kgfm, no caso equivalente a uma unidade moderna 2-L de aspiração natural.
Seu desempenho se assemelha a de um automóvel com o dobro da cilindrada, em qualquer condição de uso, porém limitando o consumo a 11,9 km/l na cidade e 14,3 km/l na estrada (gasolina); 8,4 km/l e 10,1 km/l (etanol). Contribui para esses resultados o novo câmbio manual de seis marchas. O automático virá em 2017. Preços partem de R$ 74.990 e alcançam R$ 95.661 (para menos de 5% dos compradores).
Golf terá apenas motores com turbocompressor. A fábrica também mudou o plano de manutenção, agora a cada ano ou 10.000 km. Antes se exigia troca de óleo semestral e a alteração será válida para toda a linha VW. Já não era sem tempo.
RODA VIVA

SERGIO MARCHIONNE, presidente mundial da FCA, reafirma que novas tecnologias – da condução autônoma à eletrificação – são muito caras e ainda geram incertezas, inclusive de plena aceitação pelos clientes. “Em carros esporte, então, nem pensar”, disse. Ele veio ao Brasil para lançamento mundial do SUV médio-compacto Compass, que será fabricado também no México, Índia e China.
FIAT montou uma estratégia para colocar o novo motor de 3 cilindros no Mobi, o que ajudará a impulsionar suas vendas. Criará nova versão (possivelmente batizada de Drive) prevista para estrear logo no início de 2017 ou até antes. Aos poucos, descontinuará o atual motor de quatro cilindros que, além de antigo, não brilha em termos de consumo.
ESTILO tem alguns exageros, mas o híbrido Toyota Prius traz experiência marcante. Quem usa o acelerador com moderação consegue tirar o carro da imobilidade e, em teoria, rodar até quatro km no modo puramente elétrico. Resultado de consumo de combustível no uso urbano é excepcional; na estrada, nem tanto. Atmosfera da cabine, um ponto alto.
MITSUBISHI renova a picape média de cabine dupla L200 Triton, sem retirar de linha a geração anterior. Estilo mudou pouco e uma das novidades é a altura da caçamba, o que aumentou o volume para carga. Grande evolução mesmo foi do motor a diesel, que diminuiu cilindrada para cortar consumo e ainda assim ganhou potência (190 cv) e torque (43,9 kgfm).
DEZOITO entidades de vários setores tentam convencer candidatos à prefeitura da maior cidade do País – e, portanto, exemplo para outros municípios – sobre a importância da inspeção veicular de segurança e ambiental. Estudos apontam que de 10% a 20% das mortes no trânsito ocorrem por falta de manutenção regular, sem contar a melhora na qualidade do ar.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).


Avançar custa caro [Alta Roda]

A Fiat começou a destrinchar o quebra-cabeça em que se envolveu com várias opções na faixa de compactos hatches, ainda o segmento mais importante do mercado brasileiro. A chegada do subcompacto Mobi provocou um conflito de preços entre o Uno e a versão antiga do Palio, conhecida como Fire. Esta última, segundo o fabricante, agora é destinada “apenas a frotistas”. É possível certa flexibilidade até o modelo ser descontinuado.

Em compensação, o Uno 2017 recebeu modificações estéticas – nova frente que o aproximou do estilo do Panda italiano, com novos faróis, grade e para-choque – e mecânicas. O foco foi em moderna família de motores e avanços em eficiência energética. A marca italiana estava atrás dos concorrentes, mas não perderá o prazo fatal para comprovar, a partir do próximo mês, redução de consumo de combustível, na média de todos os seus produtos à venda, em no mínimo 12% em relação a 2011.
A estratégia incluiu direção eletroassistida, nova geração de pneus “verdes”, spoiler dianteiro, convergedor de ar do radiador e revestimentos aerodinâmicos na parte inferior da carroceria. Os inteiramente novos motores flex de 1 L, de 3 cilindros e 1,3 L, de quatro cilindros, ambos com bloco de alumínio, estão entre os melhores do mercado. Formam uma família batizada de Firefly (vagalume, em português) e o Brasil tem primazia no lançamento.
Uma das características é a opção por um cabeçote monocomando de apenas duas válvulas por cilindro, ao contrário de outros motores modernos com quatro válvulas e duplo comando. Mas o resultado final pode ser considerado muito bom, pois a engenharia aproveitou ao máximo as características dos nossos combustíveis ao elevar a taxa de compressão para 13,2:1. Também trabalhou novos conceitos de balanceamento do motor para reduzir vibração e aspereza do 3-cilindros. Isso fica nítido logo ao ligar o motor pela boa marcha-lenta e retomadas convincentes graças ao alto torque com gasolina (10,4 kgfm) e etanol (10,9 kgfm).
O torque específico é o maior entre os motores aspirados de 1 L no Brasil, mas a potência limita-se a 72/77 cv (gasolina/etanol), longe, por exemplo, do motor equivalente mais sofisticado, de 80/85 cv, da Ford. Trata-se de compensação típica entre elevar torque e baixar potência (e vice-versa), quando não se usa superalimentação (turbo ou compressor). Em estrada, principalmente com lotação completa e bagagem, o motorista sentirá alguma dificuldade nas ultrapassagens. Se for esse o caso, a melhor opção é o 1,3-L que oferece 101/109 cv e 13,7/14,2 kgfm.
O ganho em eficiência energética foi notável, de 14,4% no motor de menor cilindrada e de 16,7%, no maior. Nesse último o sistema desliga-liga o motor em paradas tornou-se item de série tanto no câmbio automatizado (que recebeu aperfeiçoamentos), quanto no manual (ainda um ponto fraco do Uno). Consumo menor em trânsito pesado é garantido, mas quem quiser pode inibir esse recurso ao aperto de um botão.
Nas versões de topo há controle eletrônico de trajetória e de partida em aclives. Os preços aumentaram bem e não poderia ser diferente pelo que oferece: R$ 41.840 a R$ 53.690. Está aberto espaço ao Mobi e também aos concorrentes…
RODA VIVA

HYUNDAI confirmou o que se esperava. Um crossover compacto será produzido no Brasil no próximo ano e exibido antes no Salão do Automóvel de São Paulo agora em novembro. Creta utilizará a base modificada do HB20 com estilo específico para o mercado nacional. Motor não foi informado pela marca, mas poderá ser o atual flex 1,6 L com injeção direta e 140 cv.
PRESIDENTE da Ford América do Sul, Lyle Watters, atuou anteriormente na subsidiária europeia e teve de enfrentar a recente fase de profunda crise de vendas. A recuperação do mercado lá foi mais rápida do que o esperado. Para ele, tudo indica que acontecerá algo semelhante aqui. Quando o mercado começar a reagir, também deve surpreender pela velocidade.
VERSÃO de entrada do Mercedes-Benz C180, produzida no Brasil, tem acabamento e materiais de primeira qualidade, embora faltem alguns acessórios básicos em um modelo premium como sensores de obstáculos. Motor turboflex de 1,6 L e 156 cv não aproveita todo o potencial de desempenho do etanol. Dá conta dos 1.400 kg de peso (vazio), sofrendo um pouco com carga total.
GOVERNO federal não conseguiu derrubar a liminar que obriga a sinalização de todas as rodovias, antes de aplicar multas em quem deixar de ligar farol baixo durante o dia. A lei, mal discutida e pior implantada, merece revogação. Ideal seria estabelecer um cronograma para luzes diurnas específicas de acendimento automático, tanto em estradas como em cidades.

VAZAMENTO de óleo lubrificante e outros fluidos originados de veículos são fontes de poluição não atmosférica pouco controladas no Brasil. Inspeção veicular séria parece distante e assim maior cuidado com a manutenção poderia amenizar o problema. Como referência, apenas um litro de óleo tem potencial de contaminar um milhão de litros de água.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).



Cliente ficou digital [Alta Roda]

O Brasil se desindustrializou antes de enriquecer e passar a ser uma sociedade em que os setores de serviço e consumo respondem pela maior parte do PIB, como acontece nos países chamados centrais. Essa dura realidade foi apontada por alguns palestrantes do seminário sobre tendências da indústria automobilística, organizado pela revista Quatro Rodas, em São Paulo.

Uma crise de vendas como a que assola o setor atualmente torna o cenário ainda mais difícil por enfraquecer a cadeia de fornecedores. Basta ver o caso da Volkswagen, atingida por disputa litigiosa com um grupo de fornecedores sediado na Alemanha, cujas filiais aqui instaladas passaram a atrasar e depois suspender a entrega de bancos. A empresa deixou de produzir mais de 150.000 veículos desde o início de 2015 e os seus estoques estão tão baixos que fizeram diminuir sua participação de mercado. Só no fim deste mês a produção retomará e as fábricas trabalharão no máximo da capacidade até novembro, de acordo com David Powels, presidente da VW.
Parte dos problemas se deve à baixa produtividade do trabalho no País, explicada pelo baixo nível educacional, burocracia e leis superadas, entre outros motivos. Mas é improvável alguma marca arredar o pé do Brasil, que até recentemente era o quarto mercado mundial de veículos e deve voltar a essa posição em algum momento depois de 2020.
Até fabricantes de modelos mais caros com produção local (Audi, BMW, Land Rover e Mercedes-Benz, presentes ao seminário) acreditam no potencial de 5% das vendas totais para este segmento, hoje 2,5%. Deram exemplos do Chile, onde a participação é de 6% e da China, 10%.

Stefan Ketter, presidente da FCA, criticou o grau de fechamento da economia brasileira. Para ele, as fronteiras devem ser abertas para o mundo a fim de que o País possa exportar mais. Porém, isso não parece fácil, porque cada fabricante de veículos tem uma estratégia, sem contar os outros setores industriais e a taxa de câmbio. Dez anos atrás o Brasil chegou a exportar cerca de 30% de sua produção de veículos e em 2016 mal vai passar de 20%, apesar de câmbio favorável e de excedente deixado pelo mercado interno.
Ketter também chamou atenção para o engajamento do comprador na era digital. Da população de 202 milhões de pessoas, 110 milhões se conectam à internet e somos o terceiro país que mais usa redes sociais no mundo. Citou que 96% dos clientes pesquisam na internet antes de comprar um carro. Segundo o Google, até 10 fontes diferentes são usadas na fase de pesquisa, a maioria online, mas quatro são “off-line”: concessionárias, conversas com família e amigos, anúncios (televisão, jornal e revista) e testes com carros oferecidos pelas lojas.
Se a falta de confiança na economia está entre os maiores fatores que inibem a compra de um automóvel novo, há os fenômenos de infidelidade à marca e dúvida a que todos os fabricantes estão submetidos, em maior ou menor grau. De acordo com o executivo, 81% dos clientes ainda não haviam decidido o que comprar no momento de iniciar a pesquisa.
Sim, o cliente ficou digital, mas prever qual será sua escolha é um desafio.
RODA VIVA


FONTES da Coluna sinalizam um atraso no lançamento do Renault Kwid, provavelmente pelas modificações no projeto original. Ficou para até meados de 2017, mas estará no Salão de São Paulo, em novembro próximo, juntamente com o SUV Captur. Este, em patamar de preço superior ao Duster, está no cronograma e com vendas previstas para início de março de 2017.
FIAT deve ceder à pressão da sua rede de concessionárias para lançar uma versão do Jeep Renegade mais barata com o logotipo da marca italiana e novo nome. Esta não era a intenção, mas com a virada dos consumidores na direção dos SUVs e crossovers compactos, além da baixa profunda nas vendas gerais do mercado brasileiro, o caminho está aberto.

CONVIVÊNCIA de duas versões do Onix, LT/LTZ/Activ (reestilizadas) e Joy (anterior, com atualização do motor e câmbio manual 6-marchas), está dando certo para manter a liderança. Diminuição de consumo de combustível, facilmente notada no uso diário, vem acompanhada da suavidade do motor 1-litro de 4 cilindros. Regulagem dos retrovisores externos na coluna dianteira continua a dever em ergonomia.

PROJETO-PILOTO da Mercedes-Benz e da Bosch, em Stuttgart, Alemanha, transforma qualquer carro em “caçador de vagas”. Ideia já em testes é monitorar espaços para estacionar e, caso o motorista não precise daquela vaga, disponibilizar a informação via aplicativo para outros motoristas. Essa experiência colaborativa assemelha-se à do Waze, que se consolidou.

ADOÇÃO das novas placas de veículos do Mercosul no Brasil foi adiada, como se esperava. Tratava-se, claramente, de jogada política do governo federal anterior. Argentina e Uruguai com frotas menores e mesmo idioma até já se integraram. Colocar mais 55 milhões de veículos brasileiros (incluindo motocicletas) nessa malha tem alto custo e baixa prioridade.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).



Consumo continuará a baixar [Alta Roda]

Os dois maiores emissores do planeta de gases de efeito estufa – basicamente CO2, mas também outros – finalmente chegaram a um acordo para homologar a meta de redução estabelecida na última conferência mundial sobre mudanças climáticas. EUA e China aproveitaram a recente reunião do G20 (grupo de países que representa 90% do PIB mundial) e se comprometeram a baixar o consumo de combustíveis fósseis. No caso de veículos, gasolina e diesel deverão ceder espaço a biocombustíveis e eletrificação de forma híbrida ou total.
Esse é um tema muito complexo. As propostas envolvem comunidades científicas, governos e indústria automobilística mundial, pois abrangem diferenças culturais e realidades econômicas totalmente diversas. Até a conscientização ambiental varia em um mesmo país, como nos EUA, ou no conjunto dos países europeus. Japão está mais engajado do que a China e dentro da América do Sul o Brasil lidera com o programa de biocombustíveis (etanol e, secundariamente, biodiesel).
O 24º Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, nos dias 5 e 6 de setembro, organizado pela AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) em São Paulo, teve como mote a eficiência energética e os impactos da evolução tecnológica para controle dos gases de efeito estufa.
Foram mais de 60 trabalhos técnicos, além de dois painéis de debates e cinco palestras de especialistas. Ricardo Abreu, presidente do simpósio, desenvolveu análise mais abrangente. Para ele não basta considerar apenas CO2. É preciso verificar o ciclo de vida de produção dos combustíveis, da origem ao descarte final via emissões no escapamento.
Desse ponto de vista, um biocombustível, como etanol de cana-de-açúcar, leva grande vantagem sobre os de origem fóssil. Em mistura com gasolina pode aumentar bastante sua octanagem e, por isso, nos EUA se estuda adição de 30% (hoje, no Brasil, 27%) e até 40%. Com teores tão elevados, Abreu vislumbra oportunidades para um motor global flex em que cada país decidiria entre o mínimo de 10% e o máximo de 100% de etanol, a depender do custo de produção.
Para a Coluna, existe potencial da engenharia brasileira por estudar motores flex há mais de 30 anos. Coincidentemente, a Nissan acaba de anunciar no Japão um motor de taxa de compressão variável a ser exibido, no final do mês, no Salão do Automóvel de Paris. Para um motor flex é o ideal, embora ainda não se saibam os objetivos da marca japonesa nem o preço desse recurso, basicamente mecânico, em cenário tecnológico dominado pela eletrônica.
Havia expectativa de que Margarete Gandini, secretária de Desenvolvimento de Produção dentro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, pudesse abrir alguma luz sobre eventual continuidade do programa Inovar-Auto previsto para terminar no final de 2017. Isso não ocorreu.
Nos bastidores comentou-se que não haveria propriamente nova “política” industrial para o setor, mas um sistema de metas de longo prazo – 10 anos – para eficiência energética. Talvez a taxação do IPI sobre cilindrada e tipo de motor fosse substituída por algo como kJ/km, gCO2/km ou a expressão mais simples de km/l à qual o consumidor está habituado.
RODA VIVA

SITUAÇÃO do mercado está longe de uma verdadeira virada, mas se pode dizer que parou de piorar e as quedas tendem a ser menos pronunciadas do que se imaginava. Depois de conhecidos os números de vendas de agosto, a Fenabrave aponta para redução de 16% do ano completo de 2016 em relação a 2015. Essas previsões já foram piores, de até 25% de queda.
ANFAVEA ainda não mudou sua previsão de menos 19% nas vendas sobre os 12 meses do ano passado. Mas as curvas, por ora, apontam para menos 15%. Os estoques totais se reduziram de 36 dias para 34 dias. No entanto isso se deve, na maior parte, pela paralisação total das três fábricas da VW por falta de peças de um fornecedor que provocou um litígio comercial.

MOTOR de 3 cilindros de 1,2 L do Citroën C3 confirma os bons resultados de consumo de combustível. Consegue índices até um pouco melhores do que o indicado no Programa Brasileiro de Etiquetagem. Em estrada é fácil chegar a 17 km/l com gasolina. Desempenho é próximo ao de 1,45 L da mesma marca, porém algo mais ruidoso do que os melhores motores de 3-cilindros.
AGÊNCIA de Segurança Viária dos EUA autorizou os fabricantes a usar, além da carta registrada, qualquer meio digital para incrementar o índice de atendimento a recalls. Valem até redes sociais para aumentar o comparecimento às concessionárias. Lá o índice é de até 75% em 51 milhões de veículos afetados (em 2015). Aqui, nem chega a 30% e fica por isso mesmo.
PNEUS considerados “verdes”, com uso de sílica no lugar de negro de fumo para diminuir atrito de rolamento e por consequência consumo de combustível, avançam para alcançar 100% da produção. Bridgestone já tem a nova linha Ecopia de “verdes” em vários modelos brasileiros. Sua outra marca, Firestone, de pneus mais acessíveis, sílica também avança, porém de forma mais lenta.
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1º de maio de 1999. É publicada em uma rede nacional de 98 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).