MONZÍSTICAS (2)

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POÇOS DE CALDAS (só filé) - Não sou muito dessas frescuras de parar tudo por causa de chuva, mas do jeito que começou a classificação para o GP da Itália, acho que não dava, não. Fazia tempo que não via tanta água num circuito de F-1. Creio que em outros tempos, Charlie Whiting abortaria tudo até que o sol brilhasse e os girassóis florescessem.

Mas foi debaixo de um toró de proporções bíblicas que a bagaça foi autorizada – e gostamos, insistirei –, e em meio a um spray que só permitia ver uma nuvem d’água nas telas de TV apareceram alguns carrinhos abrindo o Q1, até Grojã aquaplanar na reta e pimba! Rodou miseravelmente e bateu, xingando a direção de prova de estúpida e irresponsável.

A direção de prova estúpida e irresponsável acionou a bandeira vermelha na hora para remover o carro do francês, e aproveitou para mandar o safety-car ao campo de batalha verificar as condições do asfalto. Antes mesmo de completar uma volta, o piloto do Mercedão avisou: dá não. E surgiu a primeira informação para as equipes. Eram 9h15 de Brasília, e dali a 15 minutos novas instruções seriam dadas.

Até então, sete pilotos tinham tempos registrados, e Hamilton era o mais rápido, de longe. O mesmo número de pilotos, aliás, que completaram voltas no último treino livre, de manhã – Massa foi o mais rápido deles, até que a sessão fosse interrompida pelo excesso d’água.

A perspectiva de um cancelamento da classificação começou a se desenhar às 9h30. A direção de prova pediu mais 15 minutos para pensar no assunto e torcer para que a chuva diminuísse. Depois, mais 15 e mais 15 e mais 15. E a chuva apertou. E mais 15.

E nisso o diabo desse treino começou de verdade às 11h40 e acabou se estendendo por três horas, que serviram para embaralhar o grid e inscrever nos anais da categoria a quebra de mais um recorde histórico: Lewis Hamilton fez a pole e tornou-se o piloto com maior número de presenças na primeira posição de um grid. São 69 agora, deixando Michael Schumacher para trás.

Lewis fazer a pole não é exatamente uma novidade, mas a classificação caótica de Monza ajudou a transformar coadjuvantes em protagonistas e vice-versa, como dizia o craque Jardel, do Grêmio – “Clássico é clássico, e vice-versa”, afirmou o centroavante, no dia de um Gre-Nal. Vejam só quem está ao lado de Hamilton, em segundo: Stroll, Lance Stroll, ele mesmo, que já calou a boca de todo mundo com o pódio em Baku e, agora, sapateia na cara da sociedade como o mais jovem piloto a largar na primeira fila em todos os tempos.

OK que foi graças às punições sofridas por Verstappen e Ricciardo, que ficaram em segundo e terceiro no cronômetro. Mas ele foi o quarto mais rápido, e não tem nada a ver com as trocas de motores da Red Bull. Ocon larga em terceiro, com Bottas em quarto e a Ferrari na terceira fila – Raikkonen e Vettel, pela ordem, meritíssimo.

É o cenário dos sonhos para Hamilton, embora um pódio de Vettel não possa ser obviamente descartado numa pista veloz como a de Monza. É provável que, em algum momento, ele supere os dois carros da Red Bull. Bottas já será um problema maior. E, de qualquer maneira, Lewis estará anos-luz à frente na hora em que Sebastian se colocar em condição de almejar algo que leve alguma alegria à torcida da Ferrari. Isso, claro, se estiver seco – é a previsão para amanhã, mas também era para hoje e erraram.

Alguns pilotos nesse lote atual da F-1 são muito bons de chuva. Vettel, Hamilton, Verstappen, Ricciardo e Alonso são alguns deles. Ocon mostrou qualidades. Hülkenberg também não faz feio. Torço para chover. Gosto de ver o circo pegar fogo e, se puder, jogo gasolina para apagar.



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