Apesar da crise no setor automobilístico brasileiro, o segmento de utilitários esportivos compactos não para de crescer. A categoria, que em 2010 representava apenas 1,7% dos automóveis vendidos no país, atualmente responde por 9,8% do mercado – superando a participação dos sedãs médios (7,2%). De olho nesses números, a Nissan vislumbrou que este é o momento ideal para brigar por um lugar de destaque no segmento mais promissor dos últimos anos, apostando em sua tradição no mercado global de crossovers (a marca é a líder mundial com os modelos Juke, Qashqai, X-Trail e Murano somados) com um modelo que reúne as principais qualidades dos concorrentes e características definidas em pesquisas com consumidores.
Novo modelo global da Nissan, o Kicks foi apresentado na forma de conceito no Salão do Automóvel de São Paulo de 2014, mas o seu desenvolvimento teve início há cerca de cinco anos, no Japão. De lá para cá, o seu projeto sofreu diversas alterações para atender ao mercado brasileiro, sendo adaptado às novas tendências de acordo com o que a concorrência apresentava. Previsto para ser vendido em 80 países na América Latina, Ásia, Estados Unidos e, possivelmente, na Europa, o Kicks chega às lojas brasileiras no próximo dia 5 de agosto, por enquanto importado do México até a fábrica de Resende (RJ) ser totalmente adequada aos níveis de qualidade estabelecido pela Nissan – o modelo nacional deverá ser lançado até março de 2017 com as versões de entrada e intermediárias.
O novo anti-HR-V
O Kicks chega inicialmente apenas na versão topo de linha SL (a partir de R$ 89.990), pois a Nissan quer testar a receptividade do mercado e reforçar as novidades do carro em sua fase inicial. O crossover foi concebido a partir de uma versão evoluída da plataforma V de compactos, a mesma do hatch March e do sedã Versa. Para dar origem a um SUVinho, a estrutura sofreu uma série de modificações, utilizando aços de alta resistência para aumentar a rigidez, uma vez que a distância entre-eixos foi alongada. A suspensão dianteira (McPherson) recebeu novos amortecedores e coxins, enquanto o conjunto traseiro (eixo rígido) foi desenvolvido especialmente para o modelo.

A Nissan não esconde que o principal rival do Kicks será o Honda HR-V, atual líder do mercado brasileiro, mas diz que as semelhanças entre os modelos (as medidas externas são idênticas) são uma coincidência, pois os números de seu carro “foram baseados em pesquisas de mercado para atender às necessidades dos consumidores”. Para tentar desbancar o concorrente, a marca aposta no design, que leva a sua nova assinatura global, em tecnologia, segurança, conforto, eficiência e em um pacote robusto de itens de série.
Logo de cara, confrontamos o novato com o Honda HR-V EXL (R$ 99.200) e o Jeep Renegade Longitude flex (R$ 90.490), levando em consideração o nível de equipamentos dessas versões.
Por conta da disponibilidade dos carros para a avaliação, ilustramos as fotos da matéria com o HR-V LX e o Renegade Sport diesel apenas para comparar as diferenças de estilo e as proporções dos modelos lado a lado.

Assim como os rivais, o Kicks SL sai de fábrica com direção elétrica, ar-condicionado digital (o do Renegade é de duas zonas), rodas de 17 polegadas, faróis de neblina, bancos de couro, chave presencial, controles de estabilidade e tração, faróis com acendimento automático, central multimídia, entre outros. O equipamento do Nissan, porém, é dotado de quatro câmeras que mostram os arredores do carro em manobras. Em termos de segurança, apenas Kicks e Renegade são equipados com seis airbags, contra quatro bolsas infláveis do HR-V. Embora não tenha freio de estacionamento elétrico e nem freios a disco nas rodas traseiras como os concorrentes, o Nissan é o único do trio a contar com o controle dinâmico de chassi, um sistema que atua no envio de força às rodas realizando leves frenagens naquela que estiver com menos aderência, favorecendo a estabilidade em curvas.

Outro destaque do Kicks é o painel de instrumentos dividido por uma tela digital de 7 polegadas. Com ótima resolução, o recurso mostra 12 funções, como o conta-giros, computador de bordo, a atuação do controle dinâmico de chassi, coordenadas do GPS e informações do rádio.
Por ora, os únicos opcionais disponíveis para o Kicks são as pinturas metálicas (R$ 1.500), bancos revestidos de couro bege ou marrom (R$ 500) e teto pintado de laranja (R$ 2.500).
Motor 1.6 dá conta do recado?
Muita gente poderá estranhar o fato de o Kicks ser movido pelo motor de 1.6 litro de 16 válvulas flex, que gera 114 cv de potência a 5.600 rpm e 15,5 kgfm de torque a 4.000 rpm (o mesmo de March e Versa). A Nissan argumenta que o propulsor é suficiente para empurrar os 1.142 quilos do crossover, compensando a diferença de peso em relação ao rivais, equipados com motores 1.8. A transmissão do Kicks é do tipo CVT (continuamente variável) com modo esportivo e calibrada para simular sete marchas, porém, sem opção de trocas manuais. De acordo com os dados de fábrica, o Kicks acelera de 0 a 100 km/h em 12 segundos e chega aos 175 km/h de máxima.

O HR-V EXL (1.276 kg) cumpre o 0 a 100 em 11 segundos e atinge a mesma velocidade máxima do Kicks graças ao bloco de 1.8 litro que entrega 139/140 cv a 6.500 rpm e 17,4/17,7 kgfm a 5.000 rpm (gasolina/etanol). Como no Kicks, a força do propulsor é gerenciada por um câmbio CVT.
Já o 1.8 e.TorQ que o Renegade Longitude (1.440 kg) leva sob o capô desenvolve 130/132 cv a 5.250 rpm e 18,6/19,1 kgfm a 3.750 rpm e funciona associado a uma caixa automática de seis velocidades. Segundo os dados de fábrica, o Jeep atinge os 100 km/h em otimistas 11,5 segundos e chega aos 181 km/h de velocidade final.
Ao volante do Kicks, é possível notar que ele tem mais semelhanças com o HR-V do que com o Renegade. Inicialmente, a direção leve e o funcionamento do câmbio CVT remetem ao Honda, mas essas impressões começam a mudar após alguns quilômetros de convivência. A transmissão do Nissan tem funcionamento mais suave nas acelerações e mostra maior precisão na hora de reduzir o giro do motor quando o carro atinge a velocidade pretendida pelo motorista. Embora os números de desempenho divulgados pelas fabricantes mostrem uma pequena vantagem do HR-V no 0 a 100 km/h, essa diferença é mais notada na hora de superar longos trechos de subidas na estrada, pois o motor 1.6 exige pé embaixo para embalar o SUVinho. No entanto, quando comparado ao Renegade 1.8 flex, o Kicks mostra maior agilidade em qualquer situação devido os 298 kg extras do Jeep.

Essa diferença de peso também influi no consumo de combustível. A Nissan revela os dados aferidos pelo Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro, no qual o Kicks obteve a nota A na categoria com médias urbanas de 11 km/l (gasolina) e 8,1 km/l (etanol) e rodoviárias de 14 km/l (g) e 9,6 km/l (e). O HR-V é classificado com a mesma nota e os seguintes números: 10,5 km/l (gasolina) e 7,1 km/l (etanol) na cidade e 12,1 km/l (g) e 8,5 km/l (e) na estrada.
O Renegade 1.8 flex automático ainda não foi avaliado pelo Inmetro, mas a versão Sport manual foi classificada com a nota B na categoria: 7,4 km/l (gasolina) e 6,7 km/l (etanol) em ciclo urbano e 10,7 km/l (g) e 9,6 km/l (e) em percurso rodoviário.
Uma das características mais apreciadas pelos consumidores de SUVs e crossovers é a capacidade de superar buracos e demais obstáculos urbanos com maior desenvoltura que outros automóveis de passeio. Com 20 cm de altura livre do solo, o Kicks não só supera os concorrentes nesse quesito como mostra que a Nissan observou bem as condições de rodagem do Brasil na hora de desenvolver as suas suspensões. O conjunto do crossover absorve as irregularidades com eficiência, mas não é molenga e nem excessivamente duro como o do HR-V (que tem comportamento exemplar no asfalto liso), equilibrando bem conforto e robustez. Ainda assim não bate o ótimo acerto de suspensão do Renegade, a referência do segmento.

O Kicks chega com credenciais para disputar as primeiras posições do segmento de SUVs compactos, mostrando que a Nissan observou direitinho o que a concorrência andou fazendo nos últimos anos. Bonito, espaçoso, confortável e bem equipado, o crossover provou num primeiro contato que um motor pequeno pode entregar desempenho condizente para a proposta do carro e semelhante aos dos rivais mais potentes – e consumindo menos combustível. Mas o principal atributo do Nissan está na relação custo-benefício, bem superior à do líder da categoria, que desfruta da consolidação de sua marca no país mesmo não justificando um preço tão superior.
A Nissan destaca ainda o custo das seis primeiras revisões (a cada 10 mil km), que totaliza R$ 2.994 contra os R$ 4.009 pedidos pela Honda e R$ 3.754 da Jeep.
Diante da concorrência, a tabela de preços do Kicks deixa espaço para a Nissan inserir uma versão ainda mais completa (com piloto automático, faróis de LED, teto solar e espelho fotocrômico) e, quem sabe, equipada com um motor mais potente. A marca até diz que o projeto pode acomodar um propulsor de 1.8 ou 2.0 litros, mas no momento a prioridade é a economia de combustível.
Fotos: Renan Rodrigues e Divulgação
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