Caçador de carros: a saga da barca japonesa

Os 365 dias do ano estão repletos de comemorações — no caso de 2016, são 366 dias por se tratar de um ano bissexto. Mas cabe ao 13 de maio a lembrança pelo “Dia do Automóvel Brasileiro”. Essa data foi escolhida pois foi nesse dia, em 1926, que ocorreu no Brasil a inauguração da primeira rodovia totalmente pavimentada com placas de cimento.

Em homenagem ao “Dia do Automóvel” e a paixão que impera no universo dos carros, nesta semana vou falar sobre o amor que tenho por essas máquinas – e até onde já fui, literalmente, movido por esse sentimento.

Em abril de 2015, meu trabalho como Caçador de Carros exigiu um investimento maior em divulgação. Resolvi vender meu veículo, um valente Civic 2004, para injetar grana na empresa. Foi triste — tanto que chorei ao apertar a mão do comprador. No entanto, sabia que era a coisa certa a ser feita.

Para não ficar a pé, passei a usar um Corsa Wagon 99 que meu sogro tinha dado para a minha esposa. A peruinha estava muito boa, e o motor 1.6 a empurrava com folga. Só que a falta do câmbio automático, presente no Civic, fez com que minha mulher se desinteressasse pelo carro. A solução foi vendê-lo e tentar comprar um automático com o valor obtido.

O problema é que o Corsinha não valia muita coisa. E, depois de 45 dias, eu o vendi por R$ 10 mil. Com essa quantia, priorizei os japoneses dos anos 90, que já usavam boa parte da tecnologia que temos nos carros de hoje. Avaliei modelos da Honda, Toyota, Mitsubishi, Subaru, Nissan, mas tudo o que eu pensava era que não devia ter vendido a pretinha.

Para um amante de carros como eu, foi trágico me deparar com tantos automóveis ruins. Eis que encontrei um Nissan Maxima na cidade de Indaiatuba (SP). O veículo avaliado tinha alguns problemas, o que inviabilizou a compra. Comecei a caçar um outro Maxima diariamente, até aparecer o anúncio de um exemplar azul que chamou a minha atenção, especialmente pela beleza nas fotos e pela descrição. Só havia um problema: o carro estava em Porto Alegre (RS), a cerca de 1.150 quilômetros de onde moro.

Por incrível que pareça, o carro foi vendido na mesma semana, mas, alguns dias depois, estava novamente anunciado pelo comprador, na cidade de São Leopoldo (RS). O novo anúncio revelava outras fotos, mas eu tinha a certeza de que era o mesmo carro de Porto Alegre. Parecia óbvio que eu não fosse viajar para tão longe para comprar o carro, mas mesmo assim iniciei a negociação.

As condições do automóvel foram esclarecidas e consegui tirar R$ 4,7 mil dos R$ 15 mil pedidos pelo proprietário. Aceitar a proposta significava me planejar para uma grande aventura, cruzando quatro Estados ao volante de uma barca japonesa de 20 anos. Foi exatamente o que fiz!

Com total apoio da minha esposa, comprei uma passagem de avião e fui para Porto Alegre, carregando na mala ferramentas, cabo para recarga de bateria e galão de combustível para eventuais problemas.

Saí de casa numa quarta-feira de madrugada e cheguei ainda cedo à capital gaúcha. A ideia era fechar rapidamente o negócio e voltar no mesmo dia, se possível.

Vale destacar que, envolvido pela paixão, não dormi na noite anterior, pois a ansiedade era grande. Chegando a Porto Alegre, fui recepcionado pelo dono do carro no aeroporto e fomos para sua cidade, São Leopoldo.

Fiz uma avaliação minuciosa no Maxima e identifiquei alguns probleminhas. Mas o que mais me chateou foi que o ar-condicionado não funcionava. Ainda questionei o dono, que havia me dito que estava perfeito, mas ouvi que lá no Sul eles quase não usam o ar.

Não tinha como fechar negócio naquela condição, e já comecei a planejar minha viagem de volta, que seria de ônibus.

Fui para a estação de trem com destino a Porto Alegre, mas por alguma razão não comprei a passagem. Fiquei cerca de meia hora refletindo sobre a loucura que havia acabado de fazer: viajar tanto para comprar um carro antigo e complexo. A chance de dar tudo errado era grande.

Foi quando meu telefone tocou. Do outro lado da linha, o dono do Maxima se dispunha a abrir margem para negociação. E, depois de muita conversa, aceitei pagar R$ 8,5 mil pelo carro.

Fechei o negócio já no fim da tarde, e só iniciei a viagem de retorno por volta das 18h daquela longa quarta-feira. Claro que seria impossível chegar a Guarulhos (SP), onde vivo, no mesmo dia. Assim, o objetivo passou a ser dirigir até cansar.

Logo que entrei na estrada, uma deliciosa rodovia cheia de curvas, vi que tinha feito o melhor negócio da minha vida. Que carro! O motor V6 é tão silencioso que mal pode ser ouvido. Pisar forte no acelerador é ver o ponteiro do conta-giros beirar as 7.000 rpm com um vigor incrível. Os 192 cv fazem o corpo grudar no banco e tudo em volta passar muito rápido.

Depois de uns 300 quilômetros, parei para descansar. Verba para hotel? Sem chance! Cada centavo a mais significava um carro mais caro. Deitei o confortável banco elétrico, peguei um cobertor e “capotei” de sono. Acordei cedo na quinta-feira e segui viagem. Tudo funcionava perfeitamente.

Depois de uns 800 quilômetros, o cansaço bateu e o jeito foi dormir mais uma noite na estrada, novamente dentro do carro. Banho? Bem…não foi possível, mas pelo menos eu que viajei sozinho.

Manhã de sexta-feira, acordo e pego a estrada para concluir minha aventura. Cheguei a minha casa ainda cedo, com um sorriso estampado no rosto. Felizmente, nessa mesma época, o volume de trabalho deu um salto enorme, e foi com o Maxima que passei a rodar São Paulo durante alguns meses. Só algum tempo depois é que comprei um carro “mais normal” para uso no dia a dia — mas aí já é outra história.

Hoje eu até penso que poderia ter continuado com a Corsa Wagon ou adquirido um automóvel mais simples. Mas minha paixão fez com que eu partisse para algo surreal, um veículo que jamais estaria nos meus planos.

Agora, caro leitor, se você chegou até aqui, pode estar se perguntando: que fim levou o Maxima? Fim nenhum! Ele continua “vivo”, firme e forte como um segundo carro. Vendê-lo não está nos planos. Primeiramente, porque seu valor de mercado é ínfimo. Mas, principalmente, porque toda vez que entro nele sinto algo inexplicável, que talvez só os verdadeiros apaixonados por carro são capazes de entender.

E para que as pessoas não achem que isso é só uma história, fiz questão de registrar a saga do Maxima em vídeo. Se você é um apaixonado, como eu, certamente vai gostar:

Gastos e história da compra:

Detalhes externos:

Detalhes internos:

Feliz Dia do Automóvel!

Felipe Carvalho é o primeiro caçador profissional de carros do Brasil. Acesse o site www.cacadordecarros.com.br e saiba mais. Inscreva-se no canal do Caçador de Carros no YouTube e curta a página de Felipe no Facebook.

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