
RIO (de volta) – Bom, o Mundial tem um novo líder. E o novo líder arrancou a liderança de um piloto da Ferrari na casa da Ferrari. A Ferrari não chegava a Monza com um piloto na liderança desde 2012. O novo líder, no dia anterior, derrubou um recorde absoluto, o de poles, que era do maior ídolo da Ferrari.
Demais, não? Quem fim de semana espetacular. Nossa, quanta emoção. Puxa, que coisa sensacional, a torcida da Ferrari deve estar louca da vida, quebrou tudo.
Sei.
O GP da Itália foi muito sonolento. Desculpem, mas sem chuva a gente consegue adivinhar o que vai acontecer nessa corrida sem grande esforço. Hamilton na pole, Vettel em sexto no grid, alguns menos votados entre eles, como Bottas, sol. O que daria? Vitória de Hamilton, Bottas em segundo e Vettel em terceiro. O que deu? Isso aí.

Tem um único piloto que pode se gabar de ter feito um corridão. E nem foi ao pódio. Trata-se de Ricciardo, 16º no grid e quarto no final. Ele tinha o terceiro tempo na classificação, mas foi punido como quase todo mundo por razões diversas, e teve de largar atrás. Aliás, Hamilton foi o único — repito, o único — piloto no grid que largou na real posição que conquistou na classificação de ontem, essa sim divertida, debaixo d’água.
É resultado dessa regra estapafúrdia que pune pilotos o tempo todo por troca de componentes que quebram o tempo inteiro, ou que chegam ao fim de sua vida útil. É resultado da escolha por esses motores híbridos que sempre me pareceram igualmente estapafúrdios. Mas isso é coisa para a Liberty resolver a partir do ano que vem.
A prova começou como se imaginava. Lewis largou bem e Stroll, segundo colocado, perdeu a posição já na primeira chicane para Ocon, o terceiro. Raikkonen passou Bottas e no fim da primeira volta foi ultrapassado pelo finlandês na Parabólica, na solitária manobra verdadeiramente bonita das 53 voltas do GP.
Enquanto estavam todos mais ou menos próximos, uma ou outra treta aconteceu. Verstappinho, por exemplo, tentou passar Massa e eles se tocaram. O pneu dianteiro direito do holandês furou e ele ficou resmungando pelo rádio. Caiu para último. Foi na terceira volta. A direção de prova considerou o toque normal e não puniu ninguém, felizmente. Até porque foi normal, mesmo.
Vettel, que já tinha passado Raikkonen e Stroll, assumiu o terceiro lugar na oitava volta. E, daí em diante, nada de muito notável se viu em Monza. Porque Bottas já tinha se estabilizado em segundo e, na volta 13, Tião Italiano estava 8s3 atrás do líder, que tinha um ritmo bem melhor.
Raikkonen abriu os trabalhos de box na volta 16. Ele vinha brigando com Ocon e Stroll, e nesse trio aí quem acabou caindo na troca de pneus foi o jovem canadense, superado pelo ferrarista. O desfile seguiu sem novidades até a volta 32, quando Vettel parou. Até ali, os cinco primeiros eram os únicos que ainda não tinham feito o pit stop único previsto para a prova: Hamilton, Bottas, Vettel, Ricciardo — que largou com pneus médios, para adiar ao máximo a parada — e Pérez.
Sebastian parou na 32ª volta, e depois vieram Hamilton e Bottas. As posições, obviamente, se mantiveram, com o inglês tranquilo na frente, mantendo seu companheiro a uma distância nunca inferior a 4s e o alemão longe pacas, mais de 22s atrás. Quando Ricciardo parou, na volta 38, deu alguma esperança de disputa, porque caiu de terceiro para quinto, só que agora com pneus supermacios.
O australiano se esforçou, é preciso reconhecer, para emprestar alguma emoção ao povo que lotou as arquibancadas do autódromo. Passou por Raikkonen na volta 41 e partiu para cima de Vettel. A diferença, de 11s nessa volta, foi caindo rapidamente até chegar a 4s8 na volta 50. Mas Sebastian tinha a situação totalmente sob controle e não chegou a ser ameaçado de verdade.

A dobradinha da Mercedes levou Hamilton a 238 pontos, contra 235 de Vettel. Estava sete pontos atrás, saiu de Monza três à frente, encerrando a fase europeia do campeonato. Demorou 13 corridas para assumir a ponta, e terá sete para mantê-la. Será fácil? Não. Algumas pistas que vêm por aí, como as de Cingapura e Abu Dhabi, são francamente favoráveis à Ferrari. OK, talvez “francamente” seja um exagero, mas são circuitos onde não há um favoritismo claro da Mercedes, como em Spa e Monza — onde Lewis deitou e rolou.
Ricardão, Raikkonen, Ocon, Stroll, Massa, Pérez e Verstappen fecharam a zona de pontos, que teve, na última volta, uma briga rápida pelo oitavo lugar entre Pérez e Massa. O brasileiro ficou boa parte da corrida atrás de seu companheiro de Williams, mas não tentou ultrapassá-lo em momento algum. Um misto de conformismo com falta de vontade de criar confusão, assim interpretei. E, sendo bem sensato, não faria mesmo muito sentido, do ponto de vista da equipe, uma briga que pudesse ameaçar as posições de ambos — o time colocou os dois nos pontos, já estava de bom tamanho.
E o domingo terminou com as lindas imagens de sempre em Monza, com a torcida invadindo a pista e fazendo festa para pilotos e equipes. A corrida não merecia tanto.

Leia Mais.