SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (coices gratuitos) – Vale uma breve observação antes do rescaldo do GP da Espanha. Meu post pós-corrida de ontem foi para a home do UOL. Isso atrai uma fauna inacreditável. Gente que se não concorda e/ou gosta de uma opinião emitida por quem quer que seja, se acha no direito de, nos comentários, sair xingando todo mundo.

Eu, normalmente, apago muita coisa. Vocês nem têm ideia de quantos comentários e/ou usuários vão para a caixa de spam.

Mas, às vezes, respondo. Com alguma virulência.

Por conta disso, gostaria de pedir desculpas. Desculpas por ser tão educadinho nas respostas. Porque, na realidade, essa gente — que não conheço, não quero conhecer e prefiro que fique longe daqui — merece uma surra de vara de marmelo, em primeiro lugar. Depois, voltar para a escola para aprender a escrever. Por fim, quer que tenham uma morte dolorosa.

Agora, vamos ao que interessa.

A batida entre Hamilton e Rosberg, mais do que a vitória de Verstappinho, concentrou as discussões de botequim sobre a prova de ontem. Mantenho minha opinião. Lewis foi inábil, burro etc.

“Ah, mas o Rosberg entrou em modo de economia, a luz acendeu, ele viu a chance!”, gritarão. OK. Na hora eu não reparei. Depois, assistindo ao vídeo abaixo, isso ficou claro.

A análise é de Anthony Davidson, que sabe das coisas. A telemetria mostrou que Rosberguinho, naquele momento, estava 17 km/h mais lento que Hamilton. O problema é que o motor entrou em “modo de economia”, por algum set up errado que ele fez no grid. Rapidamente o alemão tratou de resolver a parada mudando o acerto num botão e apertando o “botão de ultrapassagem” que recupera energia e dá um gás extra na potência — aquilo que antes era feito com o KERS e, hoje, é feito com os motores elétricos auxiliares.

Nisso, a luz acendeu. Hamilton sabia do que se tratava e que o rival perderia potência. Então, julgou que dava para mergulhar e passar. Só que Nico solucionou o problema e, ao mesmo tempo, mudou a trajetória para evitar a ultrapassagem. Lewis tinha uma opção muito clara: tirar o pé para não bater. Ou, sem tirar o pé, ir para a grama. Foi o que fez, e o desastre foi total. Os dois na brita, tchau.

“Ah, mas por que você chama Hamilton de burro se admite que Rosberg estava no modo errado e perdeu potência?”, perguntarão. Porque mesmo perdendo potência, Nico não estava parado. Estava mais lento. Mas na frente. Com direito de proteger sua posição. Foi o que fez. Nessas horas, quem está atrás que recolha. Se não o fizer, ou bate no adversário, ou perde o controle do carro.

E fazer isso na primeira volta, sinceramente… Acho que foi burrice. Lewis não se conformou de ter sido ultrapassado na largada. Tentou recuperar o que perdeu imediatamente. A isso se chama afobação. Desnecessária. “Ah, mas a FIA disse que foi um incidente de corrida!”, berrarão ainda. Sim, nunca disse que não foi. Foi, claro. Sempre que ocorre um incidente de corrida, ele é causado por alguma coisa, ou alguém. O que não quer dizer que o cara deve ir para a cruz ou ser expulso da categoria. Nunca disse isso. Apenas acho que ele causou o acidente e foi burro. Acontece. Quem não pode ser culpado de levar uma traulitada pela traseira é Rosberg, que estava na frente cuidando de não ser ultrapassado.

Aparentemente, os dois pilotos compreenderam o que aconteceu e não se culparam mutuamente. Hamilton até elogiou a fase de Rosberg. O líder do Mundial, por sua vez, também evitou soltar seus cães sobre o parceiro. Admitiu que estava na configuração errada do motor, mas disse que solucionou o problema imediatamente e ficou “surpreso” que Hamilton ainda assim tentou passar pela direita.

Resumindo, Rosberg sabe que perdeu potência. E Hamilton sabe que sua tentativa envolvia um risco grande. Talvez Nico fizesse o mesmo se estivesse atrás. Talvez Lewis fizesse o mesmo se estivesse à frente. Nesse caso, o burro seria Rosberguinho. Ponto final. Se alguém quiser mais análise, o Renan do Couto fez a sua no GRANDE PREMIUM.

Agora, aos pitaquinhos…

- A Mercedes encerrou uma sequência de 62 corridas nos pontos, desde o GP dos EUA de 2012 — falei ontem, Rosberg foi 13º e Schumacher, 16º. O recorde de provas nos pontos pertence à Ferrari: 81 entre os GPs da Alemanha de 2010 e de Cingapura de 2014.

- O time prateado quase iguala o recorde de 11 vitórias seguidas de uma equipe, a McLaren em 2008. Foram dez.

- Depois de 30 GPs seguidos com hino da Alemanha no pódio, ontem não teve. De Monza/2014 a Rússia/2016, só Rosberg, Vettel e Hamilton ganharam corridas. Como a Mercedes é alemã, nas vitórias de Lewis o hino tocou também. Ontem a dobradinha foi Holanda-Áustria.

- Coisa engraçada: os últimos dez GPs da Espanha tiveram dez vencedores diferentes.

- Alonso foi o primeiro a abraçar Verstappen no Parque Fechado. Legal, isso.

- Vettel anda chorando demais. Ficou meio ridícula sua reclamação pelo rádio contra a tentativa de Ricciardo ultrapassá-lo no fim da corrida. O australiano tirou uma dele no Twitter.

- Prêmio de consolação para o desolado Kvyat: ele fez a melhor volta da corrida. Foi a primeira no cartel da Toro Rosso. O soviético disse que, se estivesse ainda na Red Bull, também poderia ganhar a prova em Barcelona. Pode até ser. Mas o destino, às vezes, é cruel.



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